Este é o tempo
08.04.21
Este é o tempo
por A Datilógrafa do Rés do Chão
Este é o tempo
Da selva mais obscura
Até o ar azul se tornou grades
E a luz do sol se tornou impura
Esta é a noite
Densa de chacais
Pesada de amargura
Este é o tempo em que os homens renunciam.
Sophia de Mello Breyner Andersen
Um tempo sem duração e sem coração. Um tempo difícil de perceber e destingir na monotonia dos dias iguais uns aos outros. Um tempo que não demora a fazer-se sentir com veemência num quotidiano distópico. Um tempo esmagador e impiedoso.
Este é o tempo das paredes frias, despidas de pudor que nos rodeiam sussurrando, conversando entre elas, permitindo-nos apenas escutar murmúrios de desespero.
As janelas fechadas impedem o inimigo de entrar, mantendo prisioneiros os bons samaritanos de uma sociedade louca e doentia. Não se sabe mais se é noite, se é dia. As grades são firmes e a selva impossível de alcançar.